As repúblicas são acusadas de fazer blackface durante a realização de um evento tradicional da cidade

Moradores de algumas repúblicas de Ouro Preto foram acusados de fazer blackface, uma prática racista, na qual pessoas brancas pintam seus rostos com tintas escuras com o intuito de ridicularizar pessoas negras. O caso ocorreu neste final de semana, durante a tradicional festa “Miss Bixo”, que celebra a chegada das calouras em várias repúblicas da cidade, mas só ganhou repercussão após fotos serem divulgadas nas redes sociais.
O assunto também gerou revolta, principalmente no meio estudantil. “Mesmo que não tenha sido a intenção, temos que pensar em como nossos atos afetam os outros e o que eles podem significar. Tem muito racismo “sem intenção” por aí. E blackface já era pra ser um termo conhecido por universitários com acesso à internet”, publicou uma estudante em seu perfil do twitter.
Segundo moradores da república Cravo e Canela, uma das acusadas pela prática racista, tratava-se de uma festa temática, que tinha como referência o desenho animado Corrida Maluca. “Nossa tema escolhido foi Corrida Maluca, e para representar os personagem Mutley (cachorro) e os Irmãos Rocha, 3 pessoas foram pintadas de marrom para representar a pelagem dos personagens, não-humanos em questão”, diz a nota divulgada no instagram.
Pela rede social, a república também se desculpou. “Pedimos desculpas aos que se sentiram ofendidos pela forma como representamos esses personagens. Em nossa república repudiamos qualquer ato de racismo, e estamos abertas para esclarecer e debater sobre essa questão, mas esclarecemos que não fizemos Blackface para representar pessoas pretas. As fantasias pretendiam representar os personagens fictícios”, diz.
O Diretório Central do Estudantes (DCE-UFOP), entidade que objetiva estudar, discutir, definir e representar os direitos dos corpos discentes da instituição, também se manifestou pelo instagram. Em nota, informaram ter recebido denúncias de racismo na última segunda-feira, 02, e tomado providências no dia seguinte. “As denúncias relacionadas à prática de blackface foram formalizadas e dadas as evidências, o caso segue em processo administrativo. Respaldando o conteúdo das denúncias, a Ouvidoria salientou que a Controladoria Geral da União - CGU também acompanhará o processo, através da criação de Comissão para Sindicância, que encaminhada à PRACE dará continuidade ao processo de investigação e apuração dos fatos ocorridos”, informa a nota.
A Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) também se posicionou em nota, divulgada em seu site. Além de salientar que as denúncias seriam formalizadas diretamente no sistema e encaminhadas aos setores responsáveis, pediu para que as pessoas evitassem o linchamento virtual. “O fluxo interno para o trâmite e tratamento de denúncias no âmbito da UFOP é regulamentado pela Portaria Reitoria nº 123/22… Diante disso, pedimos a toda a comunidade acadêmica a busca do diálogo e respeito aos trâmites legais, que devem ser seguidos. O linchamento virtual de pessoas ou moradias pode provocar prejuízos difíceis de serem dissolvidos”.