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Risco de ruptura motivou interdição da barragem da Vale em Mariana

De acordo com a Superintendência Regional do Trabalho de Minas Gerais, um desastre de tal magnitude poderia causar um soterramento de trabalhadores no local


Mina da Alegria, da Vale, em Mariana | Divulgação

A Superintendência Regional do Trabalho (SRTE) de Minas Gerais afirmou, nessa quarta-feira, 09, que a barragem da Vale, chamada de Xingu, na mina Alegria, em Mariana, corre "grave e iminente risco de ruptura por liquefação", uma das principais causas do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, em 2019, que matou 270 pessoas. De acordo com a Superintendência, um desastre de tal magnitude poderia causar um soterramento de trabalhadores no local.


Na nota divulgada, a SRTE pontuou que a medida ocorreu após uma ação fiscal, com pedidos de documentos no dia 27 de abril e inspeção presencial no dia 20 de maio. "A análise dos documentos apresentados pela própria empresa revela que a barragem Xingu não apresenta condições de estabilidade, com alguns fatores de segurança para situações não drenadas inferiores a 1,0, oferecendo risco significativo e iminente de ruptura", disse a Superintendência, afirmando que a situação atual é de “extrema gravidade e coloca em risco trabalhadores”.



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A superintendência disse, ainda, que técnicos e engenheiros responsáveis pela barragem relataram que o rejeito lançado em Xingu não era drenado e era lançado de forma errada na estrutura. "Como a disposição de material no reservatório não era controlada é possível que tenha corrido o lançamento de camadas de material mais granular intercalado de camadas de material fino (pouco drenante), criando, o que foi chamado na barragem B1 de Córrego do Feijão, lençóis freáticos empoleirados. Tal situação aumenta a pressão no barramento e pode explicar os elevados níveis piezométricos medidos na estrutura, mesmo com um reservatório seco", afirmou.


"A análise dos documentos apresentados pela própria empresa revela que a barragem Xingu não apresenta condições de estabilidade, com alguns fatores de segurança para situações não drenadas inferiores a 1,0, oferecendo risco significativo e iminente de ruptura".


A SRTE havia dado à Vale até o dia 1º de junho para apresentação de novos documentos, o que não aconteceu. “Nenhuma medida efetiva implementada que caracterize a eliminação ou mitigação dos riscos aos trabalhadores próprios ou terceiros que laboram ou transitam na ZAS do barramento Xingu, mormente os trabalhadores da rede férrea e motoristas de veículos e caminhões, que se pretende fazer circular à jusante do barramento”, informou a Superintendência. Além disso, segundo a SRTE, a empresa não havia apresentado nem mesmo estudos e laudos técnicos que comprovem que o risco de ruptura foi eliminado ou provas de que houve restabelecimento de condições mínimas de estabilidade da barragem.




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PARALISAÇÃO - Na última sexta-feira, 04, a Vale divulgou uma nota sobre a suspensão das atividades na Mina da Alegria, mas não detalhou os motivos, nem mesmo para a prefeitura de Mariana, conforme afirmou a assessoria do prefeito interino, Juliano Duarte. “Não houve nenhuma informação repassada pela Vale ao prefeito. Como já pronunciado anteriormente em suas redes sociais, após comunicado da empresa, foi solicitado uma reunião com a gerência da Vale para repasse de informações referente ao motivo, dimensão da paralisação bem como dos impactos financeiros que o município sofrerá em sua arrecadação”, disse a assessoria.

Nessa mesma nota, a mineradora dizia que a barragem Xingu permanece em nível 2 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM), em que não havia risco iminente de ruptura, seguindo inalteradas as condições de segurança da estrutura e que ela seguia em monitoramento. “A barragem Xingu é monitorada e inspecionada diariamente por equipe técnica especializada e está incluída no plano de descaracterização de barragens da empresa. A Zona de Autossalvamento (ZAS) da Barragem Xingu permanece evacuada, não havendo a presença permanente de pessoas na área”, publicaram.


INTERDIÇÃO - A Agência Nacional de Mineração (ANM) informou que a barragem foi interditada em março de 2020, quando passou para o nível 1 de emergência. No dia 1º de setembro, entrou para o nível 2, situação que ainda permanece.




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Segundo a ANM a vistoria da estrutura foi realizada com uma empresa contratada pela agência para dar suporte nas fiscalizações. Além disso, a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) acompanhou a vistoria e informou que foram encontradas erosões em adição à ausência de proteção vegetal em vários pontos da estrutura. A fundação também confirmou que havia camadas de material com teor mais argiloso, intercaladas por camadas de material arenoso na base dos taludes, "sem evento pluviométrico correlacionado" e constatou que essa condição de retenção de umidade detectada na estrutura, não condizia com o enquadramento como de "empilhamento drenado".

Vinte dias após a ação da ANM e da Feam, em 21 de setembro, a Vale alterou o enquadramento da estrutura, que passou de "empilhamento drenado" para barragem à montante. O órgão estadual pediu, então, projeto de descaracterização da estrutura.

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