Por André Fernandes da Costa Milanez
Psicólogo graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Especialista em Gestão de Políticas públicas pela Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP
Incessantemente ouvimos a máxima “o trabalho dignifica o homem”. Esta é uma afirmativa do sociólogo e economista alemão,Max Weber (1864-1920). Mas, e todas as demais complexidades que envolvem as vastas relações laborais?
Em nebulosos tempos de pandemia do novo Coronavírus, as drásticas mudanças no cotidiano social levam a inevitáveis mudanças nas formas de trabalho. Assim, temos visto e sentido a consequente incidência dessas alterações do trabalho – e também da falta do trabalho – em nossa psiquê, nossa saúde mental.
Home Office, videoconferência, escala de trabalho, férias coletivas, fechamento do comércio, demissão em massa, tudo isso somado às incertezas do estado da saúde coletiva, à segunda onda de contágio e à lentidão da imunização pela vacina, surgem resultados: estresse, ansiedade, estafa.
Sim, o trabalho dignifica, mas também pode adoecer.
O trabalho é uma atividade que pode ocupar grande parcela do tempo de cada indivíduo e do seu convívio em sociedade. O psiquiatra francês, Christophe Dejours, afirmava que o trabalho nem sempre possibilita realização profissional. Pode, ao contrário, causar problemas desde insatisfação até exaustão.
Este atual contexto me trouxe à memória as origens da SÍNDROME DE BURNOUT.
O termo Burnout foi inicialmente utilizado em 1953, em uma Publicação de estudo de caso de Schwartz e Will, conhecido como "Miss Jones". Neste, é descrita a problemática de uma enfermeira psiquiátrica desiludida com o seu trabalho.
Sobrecarga dos profissionais da saúde? Qualquer semelhança não é mera coincidência.
A síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema, sempre relacionada ao trabalho de um indivíduo. Essa condição também é chamada de “síndrome do esgotamento profissional” e afeta quase todas as facetas da vida de um indivíduo. É o resultado direto do acumulo excessivo de estresse, de tensão emocional e de trabalho.
Fundamentada na perspectiva social-psicológica, esta síndrome é constituída de três dimensões:
1) Exaustão emocional: caracterizada por uma falta ou carência de energia, falta de entusiasmo e um sentimento de esgotamento de recursos;
2) Despersonalização: que se caracteriza por tratar os clientes, colegas e a organização como objetos;
3) diminuição da realização pessoal no trabalho: tendência do trabalhador a se auto-avaliar de forma negativa – as pessoas sentem-se infelizes consigo próprias e insatisfeitas com seu desenvolvimento profissional.
É preciso atenção ao desenvolvimento de sintomas físicos e/ou psicológicos, tais como:
Cansaço mental e físico excessivos;
Insônia;
Dificuldade de concentração;
Falhasde memória;
Perda de apetite;
Irritabilidade e agressividade;
Pessimismo e Baixa autoestima;
Desânimo e apatia;
Dores de cabeça e no corpo;
Negatividade constante;
Sentimentos de derrota,de fracasso e de insegurança;
Pressão alta;
Tristeza excessiva.
Há tratamento para a síndrome de Burnout?
Com certeza! No geral, o recomendável para o tratamento da síndrome de Burnout requer psicoterapia e acompanhamento médico, de forma constante. O tratamento psicológico é essencialmente importante. O terapeuta ajudará o individuo na construção de estratégias para combater o estresse. Além disso, as sessões, por si só, proporcionam à pessoa um tempo de reflexão e distanciamento dos dispositivos estressores do trabalho, além de promover o autoconhecimento que possibilitará novas elaborações e reorganização das questões relativas ao trabalho.
Não obstante, cuidar da saúde mental é uma tarefa diária. É preciso sempre manter em mente a qualidade do viver. Afinal, ainda que árduo, o trabalho identifica, dignifica e deve ser fonte de realização, bem estar. Uma das facetas da felicidade é a harmonia.
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