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Foto do escritorEliene Santos

Transição capilar: meu cabelo como identidade e liberdade

Por Bruna Sudário

Graduada em jornalismo pela Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP

Apresentadora do podcast Minha Transição





Nos últimos anos, a transição capilar ganhou destaque nas redes sociais e no mercado da beleza. Várias marcas começaram a vender produtos para as mulheres que estavam abandonando a química e assumindo o seu cabelo natural. Várias blogueiras, que vivenciavam esse processo, começaram a partilhar a suas experiências em redes sociais e o assunto foi chamando cada vez mais a atenção. Mas qual será o verdadeiro impacto da transição capilar na vida da mulher negra? E o que é a transição capilar?


A transição capilar é o processo onde a pessoa decide parar de passar produtos químicos que transformam a estrutura do seu cabelo e começa a usá-lo de forma natural. Esse processo tem duração variada para cada pessoa e é concluído quando é feito o grande corte, retirando toda parte com química do cabelo.


Mas para além desse contexto atual, o cabelo sempre teve um papel de destaque na vida das pessoas. Ao olhar para a história, é possível perceber que ele sempre foi utilizado como forma de expressão. Na década de 60, o cabelo foi sinônimo de luta e resistência para o movimento Black Power, trazendo à tona debates sobre o racismo. E a transição capilar também se insere nesse contexto de luta e reafirmação de identidade. Mais do que uma escolha estética, a transição é um processo de autoconhecimento e autoestima, onde milhares de mulheres começam a reconhecer a sua identidade de mulheres negras.


Durante muitos anos, a nossa sociedade pregou que o cabelo liso era o símbolo de beleza, era o cabelo que toda mulher precisava ter para ser aceita socialmente. Dessa forma, desde muito nova, as meninas de cabelos crespos e cacheadas ouviram que seus cabelos naturais eram “cabelos ruins”, eram cabelos que precisavam ser domados e alisados. Essas meninas cresceram com uma visão negativa do seu cabelo e naturalizaram que a única forma de ter um “cabelo bom/” era passando por processos de alisamento capilar.


Falar e passar pela transição capilar é um processo interno, que toca em lembranças e traumas. Quando uma mulher negra decide abandonar os relaxamentos e progressivas, ela está decidindo se libertar de uma sociedade que sempre colocou a sua estética em um lugar de inferioridade.


Em muitos casos, essa decisão acontece quando essa mulher começa a trabalhar a sua autoestima, começa a refletir sobre o impacto do racismo, quando ela se insere em ambientes universitários ou convive com outras mulheres que estão passando por essa tomada de consciência da sua identidade.


Ao transitar, ela está assumindo o seu próprio eu, que por muitos anos foi apagado e escondido. Ela está dando vida e liberdade para sua estética, para a sua beleza negra e também está se tornando referência para outras mulheres assumirem o seu cabelo.


A transição capilar é um longo caminho de empoderamento e luta. Afinal, ao assumir o seu cabelo natural, a mulher negra se torna alvo de atitudes e falas racistas. Mas é também um dos processos mais bonitos que uma mulher pode passar. Pois ela é o início de uma fase profunda de autoconhecimento e aceitação da sua identidade.

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