Eliene
Unidade da classe trabalhadora contra as opressões: a luta contra a LGBTfobia é uma luta de todos
Por Patrícia Ramos
Mestra em Estudos Linguísticos pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG)
Por Hamza Vini
Graduado em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

Ultimamente tem-se criado um grande murmúrio social com respeito à comunidade LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis, não binários e etc). Observando a história, percebemos que se trata de uma reação às constantes lutas por direitos básicos que os movimentos têm travado no combate e criminalização da LGBTIfobia. O dia 28 de junho, por exemplo, é o dia em que se celebra as lutas LGBTI+, com referência à histórica Stonewall, mas, além dessa data, a cada ano vemos as vozes de pessoas LGBTI+ ecoando pela vida, pelo pleno emprego, pelos direitos jurídicos civis e pelo o reconhecimento social.
Com tantas batalhas por serem travadas, é complicado (para dizer o mínimo) que só as pessoas LGBTI+ encarem sozinhas essas lutas. É preciso unidade para fortalecer o movimento. É preciso unidade para que essas pautas estejam presentes em todas as esferas de luta. E isso começa com revermos nós todos o quanto estamos influenciados pela ideologia da opressão, pela LGBTIfobia e o quanto reproduzimos isso em nosso cotidiano.
Nós vivemos em um país estruturalmente desigual, dominado por elites que lucram com a desigualdade, por isso, é muito importante compreendermos as lutas contra a LGBTIfobia como lutas populares por direitos democráticos. E também é importante entendermos como essas lutas se combinam com outras lutas sociais por mudanças estruturais profundas que o país e o mundo necessitam passar. Colocando os pingos nos “is”, precisamos entender como essas opressões têm divido (e matado) uma parte da nossa classe.
Apesar de não estar enquadrado nos quase 70 países no mundo que criminalizam a homossexualidade, o Brasil é o primeiro no ranking de violência e assassinato de pessoas LGBTIs. Segundo o relatório realizado pelo Grupo Gay Bahia, em média, só em 2020 a cada 36 horas morreu uma pessoa LGBTI por crime de ódio no Brasil. Ainda é gritante a perseguição social que estas pessoas sofrem em um processo que, muitas das vezes, começa dentro da própria família e atinge a todas as áreas da vida. E na pandemia, isso se intensificou, já que as redes de apoio foram afastadas, ao passo que os ataques dos mais diversos tipos cresceram.
A pandemia aprofundou ainda mais a violência a que as pessoas LGBTIs são submetidas. Estamos diante de um governo que bate no peito para atacar os oprimidos. Com a relativa ascensão de grupos ultraconservadores e de extrema direita, além das dificuldades da vida, a comunidade é jogada como bode expiatório dos problemas sociais por líderes religiosos reacionários e corruptos, ligados a bancadas que expressam a oligarquia política, econômica e social que domina o país.
As ideologias das elites, ou seja, da burguesia, impregnou-se como praga pelo mundo todo pelo colonialismo e em nosso país não foi diferente. Basta lembrarmos que a primeira morte documentada por LGBTIfobia no território que seria o Brasil, foi do indígena Timbira Tupinambá, por autoridades europeias e coloniais. Prática que ao longo da história de formação do Brasil foi encorajada e disseminada, mesmo não havendo necessariamente leis diretas.
Não é à toa, portanto, que os postos de trabalho mais precarizados são ocupados por pessoas de setores oprimidos. Nesse bojo, incluem as pessoas LGBTIs, que representam parte significativa da categoria de trabalhadores de telemarketing e também da prostituição, por falta de oportunidades de empregos formais e com estrutura e direitos.
Sem atacar as bases materiais da discriminação aos grupos sociais oprimidos, a opressão LGBTIfóbica, entre outras (racismo, machismo, xenofobia e etc), não desaparecerá, apenas tomará novas formas na sociedade de mercado, onde as pessoas são tratadas como mercadorias que valem mais ou menos, aos olhos dos capitalistas. Além do mais, sem conectar a realidade das pessoas LGBTI da classe trabalhadora, que são as mais vulneráveis à opressão, além de muitas vezes também se defrontarem com outras discriminações sistêmicas como o racismo e o machismo por exemplo, os avanços das lutas permanecerão apenas na formalidade jurídica, longe da realidade concreta de milhões de pessoas. Se não houver a solidariedade dos héteros cis da classe trabalhadora, a estes irmãos e irmãs de classe, será minada a força social necessária para mudanças sociais profundas que a nossa sociedade necessita.